Estava navegando no blog de um amigo meu, o Chips e Choppes, e encontrei um post dele já de 2013 que, na verdade, era referente a um post original de Bruno Faidutti, conhecido autor francês de jogos de tabuleiro (o post original pode ser encontrado aqui), no qual ele comenta sobre alguns mitos relacionados a jogos de tabuleiro.
É interessante ver como muitos deles, mesmo quase 4 anos depois de originalmente publicado, ainda é atual. Veja só na tradução livre abaixo:
1. Jogos são primeiramente e majoritariamente para crianças
Claro, adultos passam muito menos tempo jogando que crianças, provavelmente porque eles também passam muito mais tempo trabalhando e falando besteiras, mas isto não implica que jogos são especificamente infantis. Jogos são uma forma eficiente de deixar o mundo real por um momento e se refugiar em um mundo mais simples e arbitrário, uma coisa que adultos necessitam tanto quanto crianças. Em uma sociedade que se torna mais complexa a cada dia, adultos estão utilizando este refúgio de forma segura e sã. O mercado para jogos adultos, seja video-games ou jogos de tabuleiro, cresce rápido, e muitos jogos vendidos como jogos para crianças, como Jungle Speed, são frequentemente jogados por adultos. E sobre video-games, os vários artigos sobre os perigos de jogos on-line para adolescentes parecem bastante engraçados quando vemos que a idade média de jogadores de WoW é de mais de 30 anos.
2. Jogos on-line estão vagarosamente matando jogos de tabuleiro
Se isto fosse verdade, dado a sucesso de jogos on-line nos últimos 10 anos, os jogos de tabuleiro já deveriam estar mortos a algum tempo. Mas a verdade é que eles estão vivos, e suas vendas estão crescendo. A realidade é exatamente o oposto. RPGs nos anos 80, jogos de cartas colecionáveis nos anos 90, jogos on-line e a renovação do poker nos últimos anos, todas estas tendências estão trazendo novas pessoas para os jogos de tabuleiro. Elas ajudam jovens adultos a perceberem que jogos não são apenas para crianças e estas pessoas passam a se interessar por outros tipos de jogos. Todas as pesquisas de mercado mostram que os grandes compradores de jogos de computador e de jogos de tabuleiro são, majoritariamente, as mesmas pessoas. Como estas mesmas pessoas também estão comprado montes de quadrinhos e livros e vendo muitos filmes e séries de TV, podemos até conjecturar se estas pessoas estão tendo tempo para trabalhar, mas isto é uma outra pergunta.
O negócio de jogos de computador e de jogos de tabuleiro são bastante similares e envolvem, frequentemente, as mesmas pessoas. Muitos autores de jogos podem criar ambos e muitas editoras movem-se de um para outro. Um bom exemplo disto é o jogo Angry Birds. Primeiramente ele foi uma adaptação de um jogo tradicional de feiras – conhecido em françês como Chamboultou. Agora o sucesso do jogo de computador foi reimplementado como um jogo de tabuleiro que tem exatamente o mesmo apelo do jogo de feita original.
(nota pessoal minha: e atualmente até mesmo evoluiu para um filme).
3. Os grandes sucessos ainda são apenas Banco Imobiliário (Monopoly), Detetive (Clue) e outros similares, e isto deverá permanecer assim.
Eu não conheco os números exatos – você tem que pagar para conseguí-los – mas, pelo menos na França, eu tenho certeza que as vendas de Jungle Speed, Time´s Up, Ticket to Ride, Catan: O Jogo, Dobble ou Werwolf não são ridículos quando comparados com jogos como Banco Imobiliário (Monopoly) ou Detetive (Clue). Alguns podem até considerar que os “velhos clássicos” são costumeiramente comprados por pessoas mais velhas que não entendem nada sobre jogos mais recentes e, corriqueiramente, compram eles para dar de presente para crianças que, provavelmente, não irão jogá-los ou talves os jogem apenas uma vez. A verdade é que os jogos clássicos ainda estão por aqui e muitos deles não são jogos ruins – eu mesmo gosto de Detetive – mas jogos mais recentes, e algumas vezes sutis, não devem ser desconsiderados e eles estão constantemente crescendo.
4. Um bom jogo também é uma ferramenta educacional
Exatamente o oposto. Jogos educacionais são jogos ruins, e não poderia ser o contrário. Eles devem ser repetitivos, didáticos e chatos. Eles não são desenvolvidos para ter jogabilidade, para capturar a atenção dos jogadores, mas para ensinar e fazer os jogadores entenderem alguma coisa. Não é de se espantar que eles sejam menos desafiadores do que jogos desenvolvidos para serem desafiadores. O grande prazer de jogar vem do total descolamento com o mundo real, da noção de que o jogo é inútil. Se ele não for inútil, se ele ensinar alguma coisa, então não é um jogo e não poderá ser jogado como tal. Assim como os velhos clássicos, os jogos educacionais são usualmente comprados por pais ou avós bem intencionados ou, algumas vezes, professores, e são impostos para os jovens que certamente prefeririam um jogo de verdade, como os que os adultos jogam.
Jogos são uma coisa, ensinar é outra. Como um jogador, criador de jogos e professor, eu tive muitas oportunidades de confirmar que a tentativa de aproximar os dois temas apenas torna a educação menos eficiente e os jogos menos excitantes.
5. Jogos não são feitos para serem levados a sério
Ao contrário do trabalho, o qual não deve realmente ser levado totalmente a sério, jogos devem ser jogador com a maior seriedade e dedicação. É uma má idéia você sempre tentar ser um ganhador na vida real, pois isto lhe trará desapontamentos e, muitas vezes, lhe fará parecer ridículo. Se em um jogo nem todos os jogadores estiverem tentando ganhar, então ele se tornará simplesmente sem sentido e entediante. A razão é que a vitória é o único objetivo, ao passo que ninguém tem a mínima idéia de qual é o objetivo da vida real.
Isto não significa que jogos não podem ser divertidos. Eu gosto de jogos divertidos e eu me considero um criador de jogos divertidos, mas diversão não é uma característica necessária em jogos, assim como não é em livros e filmes. Jogos podem ser divertidos, mas não precisam ser. Não exista absolutamente nada divertido em xadrez, Ticket to Ride ou Catan: O Jogo, mas isto não significa que as pessoas não possam se divertir quando jogar um deles. Isto é o que Blaise Pascal explicou em sua teoria da diversão e o que Freud posteriormente disse: o contrário de diversão não é seriedade, é realidade.
Se você quiser ver a edição do meu amigo Skip (bem mais curta), você pode encontrar aqui.
Há 6 anos
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