7 de abr. de 2011

Der Große Dalmuti (The Great Dalmuti)

É curioso como a gente esquece de coisas básicas. Eu, por exemplo, após ter resolvido comentar sobre jogos de tabuleiro no meu blog, acabei deixando passar um dos que eu mais jogo grupo aqui em Curitiba (e mesmo antes de vir para Curitiba): Der Große Dalmuti.
Ele é um jogo de vaza e, como eu acho que é a primeira vez que eu comento um jogo de vaza, acredito que possa me demorar um pouco mais explicando o que diabos é isto.

Jogo de vaza é um termo genérico para uma grande família de jogos de carta baseados nas chamadas “vazas”.
Uma vaza é composta por jogadas onde cada jogador baixa uma composição de cartas de “valor” maior, conforme a regra específica do jogo em questão, do que a jogada anterior. Usualmente existem dois critérios para que uma vaza termine e outra possa ser iniciada: cada jogador é obrigado a fazer uma única jogada ou cada jogador pode fazer quantas jogadas quiser. No primeiro critério cada jogador tem uma única oportunidade de ganhar a vaza. Se, por exemplo, existem 4 jogadores, então a vaza terá apenas 4 composições de cartas. No segundo caso, normalmente o jogador pode jogar sempre que for sua vez e a vaza acaba apenas quando nenhum jogador quiser (ou puder) jogar mais.
Independente do critério de final, imediatamente é iniciada uma nova vaza. As cartas jogadas anteriormente são descartadas e, geralmente, o jogador que ganhou a última vaza inicia a nova. Isto é repetido até o critério de final de jogo.
Um exemplo de jogo de vaza bastanten conhecido no Brasil é o truco. Neste jogo uma vaza é composta de 4 cartas, uma de cada jogador, e ganha o jogador que baixou a carta mais alta (segundo o critério do jogo). O jogador que ganha começa a nova vaza baixando uma nova carta, seguido pelos demais jogadores e assim por diante.
Existem diversas variações (ganha a vaza quem jogar a melhor carta, jogadores não podem passar, quem ganha a vaza escolhe quem começa a próxima etc.), mas independente da variação, todos os jogos de vaza tem a mesma estrutura básica de jogo.
Bom, espero que tenha sido claro para o público leigo com esta explicação, pois provavelmente irei utilizá-la no futuro como referência a outros jogos de vaza que eu comente. Se algo não ficou claro, por favor, me informem.

Uma vez que o termo jogos de vaza ficou claro, vamos voltar ao jogo própriamente dito. Dalmuti é um jogo composto de 12 cartas com valor 12, 11 com valor 11, 10 com valor 10 e assim por diante até 1 única com valor 1, as quais são distribuídas por completo entre os jogadores. O Dalmuti (que pode ser escolhido de diversas formas) abre a primeira vaza baixando uma quantidade qualquer de cartas de mesmo valor (por exemplo, 5 cartas com valor 11). Os demais jogadores devem, segundo a ordem do jogo, baixarem a mesma quantidade de cartas (no exemplo, 5), mas com valor menor do que a jogada anterior (por exemplo, 5 cartas 8) ou podem passar (mesmo que possuam um jogo válido, por motivos estratégicos). Ganha a vaza e, consequentemente inicia a próxima, o jogador que baixou por último uma jogada que não pode ser superada.
É interessante notar que começa a existir um limite matemático de jogo, pois, se estamos jogando 5 cartas de determinado valor, o valor mínimo possível para termos 5 cartas é o próprio 5, e é difícil que todos estejam numa mesma mão, principalmente em um jogo completo com 8 jogadores.
O objetivo do jogo é bem simples: se livrar de todas as suas cartas.
O jogo é interessante, mas não seria nada fora do comum se não fosse o subtítulo dele (Das Leben ist Unfair – A Vida Não É Justa), que leva a várias regras interessantíssimas...
A primeira delas é que não apenas o Dalmuti é importante, mas também a colocação dos jogadores após cada partida. Uma vez que uma partida acaba, o jogador que ganha torna-se Dalmuti na nova partida e pode escolher em qual posição da mesa ele quer sentar-se. Uma vez que ele o faça, todos os demais jogadores devem sentar-se, de acordo com a ordem de término da partida anterior, após o Dalmuti. Isto faz com que a cada partida existe uma nova distribuição das posições na mesa.
Além disto, o jogador que ficou na última colocação na partida anterior torna-se o “peão” da nova partida e joga em pé após o último jogador. O peão também é responsável por embaralhar e distribuir as cartas, recolher as cartas de vazas terminadas e servir refrigerantes e salgadinhos aos demais jogadores. E como se isto já não fosse bastante ruim, ele também tem que entregar as duas cartas de valor mais baixo que vierem em sua mão para o Dalmuti e, em troca, o Dalmuti lhe dará duas cartas que não sirvam no jogo deste.
Com isto o jogo torna-se muito engraçado, geralmente com todos estorvando o pobre peão, cujas chances de “subir” na vida não são lá muito grandes.
Enfim, um jogo bem divertido e simples o suficiente para ser aprendido em 10 minutos e jogador diversas vezes seguidas.
Ah, e antes que eu me esqueça, uma última curiosidade: o jogo é de Richard Garfield que, para aqueles que não conhecem, é o inventor de Magic: The Gathering, um jogo de cartas colecionáveis que praticamente é o carro chefe da Wizards of the Coast.

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